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quarta-feira, novembro 29, 2006

Uma pequena fábula de amor




A bela se deixava levar pela angústia mais profunda de seu ser.
O que poderia fazer diante daquela avalanche que sempre a tomava as carnes e os pensamentos?
Era livre e estava tão presa em si, que por vezes perdia o controle.
Não sabia se abria seu coração ou suas pernas.
Abrir seus sentimentos mais profundos era doloroso, desgastante. Sabia que se o fizesse deixaria subir à superfície toda aquela baboseira sentimental, que negara todos aqueles anos. Já estava exausta.
Observaria, então, nauseada o debochar profano da fera. A besta sentiria-se reconfortada, mais poderosa e desfrutaria dela com um prazer opressor, possessivo e até punitivo.
Por outro lado, se abrisse as pernas, poderia esquecer por instantes suas inquietudes e aplacar o tremor de suas carnes.
Talvez sentisse seu ser revigorado, pois os gestos podem ser mais intensos que as palavras e ela queria apenas aquilo de seu lado negro. Mas em suas certezas, estava rodeada de dúvidas.
Percebia diariamente, que aquele sorriso que brotava do lado direito do seu rosto era repreendido pelo lado esquerdo, que teimava em ser sisudo e indiferente.
A bela acreditava ser liberta, mas estava amarrada pra sempre à fera. A segunda tinha uma prazer mórbido em subjugar a primeira.
Aquela era a maldição, ver-se predador e presa em uma só imagem refletida.




DIREITOS AUTORAIS E A PROPRIEDADE INTELECTUALCopyright © 2006. É proibida a venda ou reprodução de qualquer parte do conteúdo deste site. Este texto está protegido por direitos autorais. A cópia não autorizada implica penalidades previstas na Lei 9.610/98.

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quarta-feira, novembro 22, 2006

Ocaso


Queria ainda um resto de sol, mas o crepúsculo deu espaço a escuridão noturna. Nem sempre é o que desejamos e as coisas nem as pessoas devem permanecer. Na ponta da praia, crianças ainda brincam na areia quente e branca, constroem seus castelos de areia e divertem-se com o desmoronar de torres.

Aqui, os fósforos chamam a fumaça do cigarro e meus devaneios, o mar acaricia as pedras imóveis, presas, recolhidas, valeria a pena esse amor? Sei do nosso amor, como sei desse mar que venero, um de nós a pedra, outro a onda.

Por que tantos se vão sem fitar o ocaso? Teimam em enxergar o por vir, ou se iludem com um ensejo de que ele tardará?

Ondas cinzas revolvem-se, beijam a areia continuadamente, o som me acalma e te traz para meu colo, lenta, a lua sobe minguante que teima em iluminar nossos corpos e semblantes exaustos.

Chegamos almejar que fosse sempre assim, olhamos o infinito na mesma direção, mas por hora já me apetece ter-te aqui, pousada em meu peito febril. Já nem sei se me ama mais, se há uma réstia de luz do que fomos um dia, mas as incertezas permeiam todo entardecer.

Não entendo o querer, ainda que me esforce, permanece a dúvida, por que tanta fome, tanta sede? Sei apenas que me sacia e acalenta-me por vezes.

Mas nem todo desejo é aplacável, para tanto me refugio nas noites que me dão a insegurança, o voto cego na utopia e na esperança de rotina, sempre ao teu lado, sempre no meu peito.

E enquanto o fenecer não nos derrota, despentearei teus cabelos e deixarei seus dedos tomarem minha vida e sufocar minha alma, só me sinto vivo assim. E se essa dor não passar, se minha luxúria me arrastar por caminhos mais prazerosos, sei que partirei seu coração ou apenas te livrarei do martírio que é me suportar.



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