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quarta-feira, novembro 22, 2006

Ocaso


Queria ainda um resto de sol, mas o crepúsculo deu espaço a escuridão noturna. Nem sempre é o que desejamos e as coisas nem as pessoas devem permanecer. Na ponta da praia, crianças ainda brincam na areia quente e branca, constroem seus castelos de areia e divertem-se com o desmoronar de torres.

Aqui, os fósforos chamam a fumaça do cigarro e meus devaneios, o mar acaricia as pedras imóveis, presas, recolhidas, valeria a pena esse amor? Sei do nosso amor, como sei desse mar que venero, um de nós a pedra, outro a onda.

Por que tantos se vão sem fitar o ocaso? Teimam em enxergar o por vir, ou se iludem com um ensejo de que ele tardará?

Ondas cinzas revolvem-se, beijam a areia continuadamente, o som me acalma e te traz para meu colo, lenta, a lua sobe minguante que teima em iluminar nossos corpos e semblantes exaustos.

Chegamos almejar que fosse sempre assim, olhamos o infinito na mesma direção, mas por hora já me apetece ter-te aqui, pousada em meu peito febril. Já nem sei se me ama mais, se há uma réstia de luz do que fomos um dia, mas as incertezas permeiam todo entardecer.

Não entendo o querer, ainda que me esforce, permanece a dúvida, por que tanta fome, tanta sede? Sei apenas que me sacia e acalenta-me por vezes.

Mas nem todo desejo é aplacável, para tanto me refugio nas noites que me dão a insegurança, o voto cego na utopia e na esperança de rotina, sempre ao teu lado, sempre no meu peito.

E enquanto o fenecer não nos derrota, despentearei teus cabelos e deixarei seus dedos tomarem minha vida e sufocar minha alma, só me sinto vivo assim. E se essa dor não passar, se minha luxúria me arrastar por caminhos mais prazerosos, sei que partirei seu coração ou apenas te livrarei do martírio que é me suportar.



DIREITOS AUTORAIS E A PROPRIEDADE INTELECTUALCopyright © 2006. É proibida a venda ou reprodução de qualquer parte do conteúdo deste site. Este texto está protegido por direitos autorais. A cópia não autorizada implica penalidades previstas na Lei 9.610/98.

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quinta-feira, outubro 12, 2006


Não vou dizer que sou movida pelo Mal, mas digam que não é mais divertido que o Bem. Não me vejo vestida de branco (até por que branco engorda) fazendo-me de anjo e tocando uma harpa, vejo me mais vestida de negro, com asas enormes e garras felinas, como as harpias, voando livre para fazer o que bem entender.
O Mal não tem muita regra, enquanto se for praticar o Bem terei que seguir uma imensidão delas e odeio obrigatoriedade, autoridade, diga-se de passagem, sou liberta, nasci sozinha e vou morrer assim, então neste intervalo quero mais é saber de mim, nada dessa história de morro por ti, morrerias por mim, blá, bla, blá. Isso pra mim é baboseira romântica e já saiu de moda faz tempo, sou minha.
Não morro por ninguém, até por que acredito que ninguém desperdiçaria sua vida por mim, nem quero.
Carrego só os meus fardos, que já são pesadíssimos, nem me preocupo com a vida alheia, por achar que já tenho problemas demais! O que comer, o que vestir?
O que posso dizer para uma, para que não morra de enfarte?
O que posso dizer a outra para que não cometa suicídio? E sem querer me preocupo. Não sou uma homicida ou uma mulher de todo ruim, contando que não me afetem, pois se mexerem comigo terão o troco em dose acentuada, e não é uma ameaça pura e simples, é uma advertência:
“Ministério da saúde adverte: Larissa Marques faz bem à saúde, quando amiga. Quando inimiga é Perséfone”.

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quarta-feira, setembro 06, 2006


Farrapo


Queria que aquilo terminasse logo, estava cansada, só conseguia pensar em todas as tarefas do dia seguinte. Ficava se perguntando se era ela quem passava por tudo aquilo, ou se um farrapo humano ali, jogado, puído, entregue, enquanto não quisessem tomar conhecimento dela, de suas fragilidades ou frustrações.
Sentia-se apenas um pedaço de carne usado e viajava em divagações existencialistas. Às vezes se mexia, para perceber-se ainda viva e para que não jogassem uma pá de cal por cima daquele corpo vazio.
Amordaçava todos os sentimentos num canto qualquer de sua mente, e os deixava ali, enclausurados. Por vezes eles berravam em agonia, choravam pedindo clemência, mas ela parecia inerte à vida.
Olhava o ventilador, que rodava enfadonho, no teto, será que ele não se cansava, mesma rotação, lenta, rotineira. Ela já estava entregue, não sabia mais como se esquivar dos duros golpes que sofrera.
Na cama, aqueles movimentos irritavam na profundamente, movimentos invasores, repetitivos, que deveriam ser de prazer, mas soavam-lhe como obrigação, então, calava-se e cedia, e cedia, e cedia.
E ao invés de fechar os olhos, ela fitava-o com ódio visceral, sabia que ele não tomara conhecimento dela e só se prendia aos seus desejos. Talvez se sentisse vitorioso, por ter sugado toda sua dignidade, por tê-la sufocado, domado sua personalidade forte, por completo.
Talvez se lembrasse de todas as mulheres e revivesse todas as sensações libidinosas, que tivera até ali. Por que ele não acabava com aquilo logo? Seu corpo todo molhado, transpirava fúria e desejo, rendido ao prazer extremo e almejava mais, e mais. Por que tinha o prazer de prolongar o que poderia ser feito em poucos minutos?
E o ventilador girava, naquele mesmo ritmo enfadonho, mas agora parecia produzir alguma brisa.
Virava-a como um boneco de molas, como uma marionete, sem vontade própria, e nem se dava conta disso, se refestelava dela, revirava os olhos, quase bailava, fazendo bom uso daquela migalha de gente que se transformara.
E por que ela aceitava aquela imposição, deveria provocar uma revolução, tomar de volta o que era seu por direito, de uma forma ou de outra aquilo acabaria, e quando chegasse ao fim, ambos deitariam, cada um pro seu lado, e quieta esperaria o outro dia chegar.


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