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terça-feira, julho 11, 2006

A traição

Com a faca na mão ela soltava seus desaforos, dizia aos berros:
─ Ainda te mato, infeliz! Desde que veio morar aqui me trai, desgraçado! Um dia hei de cortar seu pescoço e vou ficar olhando se debater, infeliz, ah se vou!
Enfurecida, começou a amolar a faca.
─ Como é que consegue fugir para casa da vizinha sem que eu perceba? Ai, que ódio, é hoje que me paga, Teteu ! Irá pagar por todos os insultos que tenho que ouvir, as risadinhas de canto de boca que suporto! Sem falar das reclamações do marido da vizinha. Bem que eu podia deixá-lo morrer nas mãos do Álvaro, bem que ele merecia o prazer de te matar!
Resmungava enquanto separava os ingredientes para o jantar, descascou uma cebola, duas, e pôs se a picá-las, começou a chorar compulsivamente, não sabia se por Teteu ou pelas cebolas que faziam arder os olhos.
─ Trato-te tão bem, mal agradecido! Dou-te tudo de melhor, tenho cuidados e até carinho. E ainda assim vai para a casa da vizinha, não vou me conformar, te conheço desde pequeno, não deveria se comportar assim!
Saiu para o quintal, com a dita faca, que brilhava de tão afiada, o galo já estava debaixo do balaio, mas Helena não sabia mais se queria matá-lo, era desobediente, trazia tantos aborrecimentos, mas ainda assim tinha carinho pelo bicho. Com piedade cortou o pescoço do coitadinho e o serviu ao molho pardo no jantar.

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