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domingo, janeiro 11, 2009

O poeta


Em cidades do interior quando morre alguém as famílias pagam um carro de som para comunicar o acontecido e assim foi mais uma vez, como tantas outras vezes naquele dia. O carro mais uma vez foi contratado para rodar a cidade inteira e de novo, e quantas vezes forem necessárias para que ficasse bem claro que algum fulano tinha passado dessa. E por incontáveis vezes o carro rodeou a pequena praça, e devagar as pessoas iam se aglutinando para trocar a indignação, para mexericar sobre a viúva, sobre os filhos, netos, uma casa que poderia ter ficado de herança, algumas dívidas sanadas pelo óbito.
Ao ligar o rádio aconteceu o inesperado, algo que jamais tinha acontecido, ouvia-se o nome completo do falecido e informavam ainda a hora e o local do velório e do enterro, por certo era político, ou algum filho da burguesia, que não poupava nem o defunto para fazer pose de aristocracia, para anunciarem no rádio, era um absurdo o valor de uma pequena chamada entre os maiores sucessos do momento. Mas a voz do locutor parecia embargada, soluçada, chorosa e sem querer citou o morto como um poeta, rimador, cancioneiro, trovador, que além de tudo era amigo, companheiro de umbigo, de boteco e fadiga. E que para quem o conhecesse que não usasse a velha desculpa de que não ficou sabendo, pois até no inferno haveriam de saber que o poeta morreu.
E ao ouvir aquilo tudo meu coração estremeceu, não havia lido um verso seu, e constatei por fim que o poeta é ser como os outros, se curva, se dobra perante a morte, embora muitos digam que não. Fiquei um tempo com esse pensamento, sentindo-me um poeta morto, que deixou para trás seus versos mal amados, mal lidos, maltratados, seus versos tortos de lamento, indignação e de morte, enquanto ela o levava.
Dizem também que poetas estão à frente de seu tempo, que são seres incompreendidos, que só fazem sucesso depois de uma ou duas gerações, mas esse poeta não esperou, apenas foi como tantos Vinícius, Tons, Jorges, mas deixou-nos sua obra.
Concordarei enfim com os que dizem que os poetas não morrem, eles são eternos em sua obra, vai meu amigo e seja lido!

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