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quinta-feira, abril 19, 2007



Luta
Já não o queria como antes, desejava agora estar com outro, bem longe dali. Mas já não tinha forças para lutar contra os contratos sociais, contra as regras de conduta. Nem contra suas carnes. Seus sentimentos eram outros, mas ainda não tinha convencido sua pele, suas entranhas, do contrário.
Observava-o dormindo, ohava por horas a fio e depois o despertava, para tomar o melhor dele. Mas na hora do estar, estava com outro ali, naquele lugar.
Pensava em Pedro, sim Pedro era seu amor mais profundo, Pedro a amava todas as noites, possuía sua alma e seus pensamentos, seu gozo.
Mas quando abria os olhos era Víctor que estava lá, segurando-a de olhos virados, por certo pensava em outra também.

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terça-feira, abril 10, 2007

Alguns textos que amigos fizeram em minha homenagem:

Larissa...
E por abrir os olhos nessa manhã
...despertei na lentidão de passos
que pareciam ser os meus
Eram de outros,
mas traziam os meus sabores
...galgavam degraus
soluçavam precipitações
e esperavam para espiar horizontes
Despertou cedo - diante da aurora
roubou minha atenção
Seqüestrou meu sorriso
Aflita! Me vi diante do espelho
Fruto de um desejo
Nem versos _ nem poemas
Segredos do peito
...que não grita
Geme _ em silencio
E no meio da noite:
sussurra!
O que diz? Não te conto
pois se o faço!
Vence-me o desejo
E nos teus braços me largo!


Lunna Guedes...Abraços em dias de lentas composições!

****


DA FIDELIDADE
(conto de Antônio Alves)

A Larissa Marques


Ao notá-lo inconsciente percebi que era meu inimigo. Este é o momento ideal para alguém tramar algo, de olhos fechados, sobre a cama, de bruços. Retiro o lençol de meu corpo meio zonza, colocando as mãos na cabeça na esperança inútil da dor súbita passar; por um milagre a dor passa e levanto-me sem sobressaltos acendendo o abajur que um outro me dera no Natal em troca dos bons serviços. A luz avermelhada ofusca os olhos como num flash estranho. De imediato a apago na preferência feliz das trevas de minha caverna; acendo novamente e o incômodo vai embora no limiar da noite escura, como num estalo da divina providência. Está lá, de bruços, no ardor de um fingimento, arquitetando meios de me destruir, montando quebra-cabeças, estratagemas sombrios.
Caminho disfarçando-lhe importância, de um lado para o outro, depois até à janela. Admiro a Lua, sempre lá, em órbita. Penso no anti-romantismo de quem veio a esta espelunca e dorme pesado, articulando planos, depois de sugar minha alma em movimentos compassados e torpes; certamente não contemplou uma lua boiando no céu iluminando os corações ternos dos jovens e dos poetas. Na cidade veloz os automóveis flutuam alucinados cheios de motoristas desenluados levando mulheres de minissaia e maquiagem forte para lugares escuros e baldios.
Penso em Carlos, num ímpeto, a fazer versos de rimas previsíveis mas que de certa forma me acariciava o coração, talvez eu quisesse mais que carícias, talvez eu quisesse ser mesmo destruída, trespassada. Às vezes na solidão sinto saudade dele, de sua mão branca e sem pelos a tocar meu rosto como quem nada quer. Eu queria o que Carlos não podia dar. Ainda tenho a caixinha de sonetos guardada a sete chaves e de quando em vez algumas lágrimas caem depois de uma relida enfática. Que destino cruel teve Carlos. Aquele agosto jamais será esquecido.
Parece que o homem deitado quer acabar com a mentira e abrir os olhos de vez. Não, está quieto, ainda de bruços, pálpebras fechadas. Desejaria que ele declamasse algo de Byron, mas o seu braço forte e encardido de operário e falhas em sete dentes eram indícios de sua ignorância para com o lorde. Ah, Byron seria perfeito demais! Seria um Carlos operário, e Carlos era tão-somente Carlos, um funcionário de repartição pública, sem mais. Lembro-me do seu choro quando parti. As cartas com versos apaixonados que recebi depois pareciam mais esfuziantes e os poemas mais organizados, era como se ele tivesse adaptado a felicidade dele à minha distância e isso, de certa forma, não nego, me fazia mal, pois eu era um joguete na sua escrita romântica e ardilosa. Quem sabe eu fosse a musa inatingível. Decidi encontrá-lo, já era tarde. Aparecera morto, com uma bala alojada no crânio. Carlos só me ofertava amor e lua e nada mais.
Teve um dia em que fomos quase felizes, quando saímos correndo pela colina como bobos e deitamos com a face para o céu até o cair da noite, contando as estrelas, sem tocar palavra. E depois até o amanhecer. Abraçamo-nos por um bom tempo, nos beijamos enamorados e nos conhecemos pela primeira e única vez. Carlos sabia escrever o amor, não consumá-lo. E assim ficamos até o dia da escolha.
A noite está vazia, sem estrelas. Da janela do oitavo andar no centro da cidade a vidraça me protege. Deito-me na cama escorando a cabeça no cotovelo direito e deixo deslizar a mão esquerda sobre o corpo do inimigo. Cabelos, dorso, nádegas, panturrilha e pé. Eis uma combinação de luxúria se não fosse minha conduta sacrossanta. Fecho os olhos e penso em Carlos e na sua voz de veludo. Sussurro nos ouvidos do outro “eu te amo, Carlos”. Por sua vez, o homem se revira sobressaltado e me diz nomes feios, impronunciáveis. Toca-me como objeto, traslada meu corpo e me ama a seu modo.
Depois de feito, o homem se veste resmungando alguma coisa vil e bate no meu rosto com pequena força, sorri, deixa um trocado no criado-mudo e sai vencedor da grande guerra, mal sabendo da traição que sofrera, pois Carlos está sempre aqui, dentro de mim, suspirando poesia a cada punhalada do inimigo, possuindo-me verso a verso, rima a rima, numa métrica perfeita, sonetamente.
Um outro entra pela porta e sei que vou amar Carlos mais uma vez.



*********

Prosa sem nome para a poetisa morta. O vento, agora como Arias improvisadas, sopra o rosto milenar da pedra da gávea. Todo alvergue nesses dias amarelos de fome, sonhos mortos e goles de liquido bacante, condena o naif por sua discrepância diante das coisas. Meu pobre quarto, tão pobre como a massarda de Balzac com 23 anos, não desconfia que me ponho rende a janela esperando aquela promessa feita por uma louca poesia que diz assim: “Sou como o ar que há no mundo, o vento leva-me para onde quer”. Probo, só e bêbado dela, espero que o vento traga até minha massarda essa mulher que crava suas unhas, suas palavras e seu mundo bem aqui onde o sangue pulsa, onde a mão quer a matéria para escrever. O peito corre como correnteza bravia!Para onde vai peito? Qual o cheiro dessa dama e já dona de mim? Qual a temperatura de seu corpo a quantas loucas passadas bate o coração dessa que virá como o vento? Em um paraíso artificial que projeto com fogo e papel e ela ri, riso de afogar homens em mares laríssicos, mar ou cama! Se for cama qual melodia posso arrancar-te seu corpo? Como é morrer de sede ao percorrer o deserto de seu corpo e descobri os oásis que há em tua boca? Quantas vezes mais o sol vai nascer como nascera essa mulher? Nunca pode uma mesma e bela coisa nascer novamente! Pode? Finda-ser-a as diletas conversas que deitamos sobre papel ou desejos? Brinco teu jogo aristocrático e despótico onde sou escravo, sendo rei. Visto em ti a fantasia de rainha para despí-la em segredo e fazer-te minha escrava senhora de mim.

Rafael Vate Caetano, Rio de Janeiro ou deus castanho 6 de abril de 2007.

segunda-feira, abril 09, 2007



Luxúria
O dia não tinha brotado no horizonte, mas o ar estava fresco, todos dormiam. Sentia-se livre, solta das arestas rústicas que a prendiam nas buscas diurnas monumentais. Sentia-se calada, pois sua voz estava presa em seu ventre, em seu sexo. Não queria acordar ninguém, mas foi tomada por um pensamento gentil. Uma saudade do que se esqueceu de acontecer.
Pousou sua mão quente sobre seu sexo frio, suspirou e encaixou a mandíbula. Lembrou-se de como tivera sede por si mesma e por um momento pensou em outras mãos ali.
Fechou os olhos e forçou seus quadris contra as mãos, tinha desejos ocultos e pensamentos leves e despretensiosos.
Era um devaneio incontido, que empedrou-se em pensamento quase real, as mãos buscavam seu sexo e o sexo retribuía a busca constante e prazerosa.
Tão silenciosa e pudica que por um momento se entregara à ilusão da luxúria, de possuir-se a si mesma, num estágio pleno de si.
Tocou-se fundo, o mais fundo que pôde alcançar e num delírio pleno de sentir-se vibrar, gozou uma, duas, incontáveis vezes consigo. Com ela não precisava falar, não precisava suspirar em demonstração de satisfação, o gozo se bastava.
E quando se satisfez de si, quis beijar-se, mas pousou sua mão fria, sobre seu sexo quente e adormeceu.

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