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sexta-feira, agosto 11, 2006

Alucinação - Homenagem ao amigo Aluisio Martins

Alucinação

Estava com a boca amarga, os olhos pesados, sem foco, acordei sem enxergar, tentei mexer as mãos, mas não as senti. A visão voltava aos poucos e tudo parecia distorcido, uma alucinação absurda. Aluísio estava do meu lado, com um sorriso torpe, de quem conseguiu o que queria, e ria-se. As cortinas pareciam voar, dizendo, “nós vimos o que fizeram, sabemos quem são vocês".
Sabia quem eu era, lembrava-me dele, via nossos corpos nus, mas não sabia onde exatamente estávamos, nem o que nos levara até lá. Piscava, e via Aluísio dormindo, vislumbrava asas nele, como se fosse um anjo, dormindo ali do meu lado, o quarto girava. Esfregava os olhos, na esperança de que se rendessem à realidade, mas só tinha vertigens.
Tentei me levantar, mas a cama parecia ter braços que me puxavam para si, meus pés pareciam pedras pesadas, que não podia carregar, não me sentia bem. Aliás, não me recordo de ter vivido algo parecido, sempre confiei em meus sentidos, e eles agora me abandonaram. Ouvia risadas do quarto ao lado, não sabia onde estava, e era inútil lutar, estava presa àquela cama. Os lençóis me aprisionavam, como braços fortes, uma canção incestuosa dominava minha pele, sussurrava em meu ouvido.
Queria gritar, talvez balbuciar alguma coisa para que Aluísio acordasse, e me dissesse algo que me fizesse despertar, mas era inútil, sentia-me amordaçada, e presa àquela alucinação.
Por um momento desisti, não pensei em mais nada, deixei a sensação me dominar, e senti um prazer profundo, inenarrável, daqueles que fazem perder todos os sentidos.
Percebi-me então, deitada em uma cama finamente coberta com rosas brancas e vermelhas. As vermelhas estavam em contato com meu corpo em chamas, e dilacerado pelos espinhos, que mais pareciam arame farpado, entravam pela boca, pelos ouvidos, pelos orifícios todos! As brancas pareciam sorrir e pulavam ao chão, no meio de uma canção fúnebre.
E ao acordar novamente, me vi em um canteiro de petúnias, e estavam em flor, e o som das abelhas era ensurdecedor, voavam por toda parte, e não me incomodavam, apenas pousavam tranqüilas sobre meu sexo, gentis, e iam embora, sem me incomodar. Perdi a noção do tempo, já não me afetavam mais as horas. Adormeci, mais uma vez.
Mais uma vez desperto, vejo-o tranqüilo, dormindo ao meu lado, beijo-o e espero que desperte, um beijo apaixonado e uma frase apenas.
“Vim apenas te buscar, espero não ter causado nenhum sofrimento".
E depois de ouví-lo minha alma se aquietou e deixei-me levar...


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3 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

Sua narrativa despertou-me imagens, sons e odores. é como se estivesse em transe, passeando por um jardim: denso, profundo - um tanto escuro, mas a presença da luz sempe ali ao alcance dos olhos.

hábeijos

Alexandre Costa disse...

Narrativa maravilhosa Larissa! Poucas vezes me senti tão envolvido por um conto, como você me fez agora!
Bjs

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e