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quarta-feira, novembro 29, 2006

Uma pequena fábula de amor




A bela se deixava levar pela angústia mais profunda de seu ser.
O que poderia fazer diante daquela avalanche que sempre a tomava as carnes e os pensamentos?
Era livre e estava tão presa em si, que por vezes perdia o controle.
Não sabia se abria seu coração ou suas pernas.
Abrir seus sentimentos mais profundos era doloroso, desgastante. Sabia que se o fizesse deixaria subir à superfície toda aquela baboseira sentimental, que negara todos aqueles anos. Já estava exausta.
Observaria, então, nauseada o debochar profano da fera. A besta sentiria-se reconfortada, mais poderosa e desfrutaria dela com um prazer opressor, possessivo e até punitivo.
Por outro lado, se abrisse as pernas, poderia esquecer por instantes suas inquietudes e aplacar o tremor de suas carnes.
Talvez sentisse seu ser revigorado, pois os gestos podem ser mais intensos que as palavras e ela queria apenas aquilo de seu lado negro. Mas em suas certezas, estava rodeada de dúvidas.
Percebia diariamente, que aquele sorriso que brotava do lado direito do seu rosto era repreendido pelo lado esquerdo, que teimava em ser sisudo e indiferente.
A bela acreditava ser liberta, mas estava amarrada pra sempre à fera. A segunda tinha uma prazer mórbido em subjugar a primeira.
Aquela era a maldição, ver-se predador e presa em uma só imagem refletida.




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Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo conto!
Beijos.